DEZ 3 Publicado por fuiobrigada
Programa Congresso Nacional do Samba
No sábado foram abordados os
temas, sempre com uma palestra seguida de mesa redonda: “A Diversidade do Samba
e o Patrimônio Cultural Imaterial”, “O Samba e suas Performances”, “Samba,
Carnaval e Redes Sociais” e “Samba, Carnaval e Direitos Autorais”.
“A Diversidade do Samba e o
Patrimônio Cultural Imaterial” iniciou com uma brilhante apresentação do autor
e músico Spirito Santo, que falou do seu livro Do Samba ao Funk do Jorjão, com
prefácio de Nei Lopes. Como é difícil a inserção da cultura negra na academia,
e como os dados coletados vão de encontro a alguns estudos feitos às pressas,
onde um “congueiro de uma semana” coleta os dados superficiais e produz teses,
dissertações e até livros teóricos sobre o assunto. E alguns enganos e erros que ocorrem na repetição
do que ele chama de “mitos do samba” dentro da bibliografia adotada dentro das
Universidades.
O outro destaque desta
temática foi o estudo da professora de
Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina, Tereza
Virgínia de Almeida que também é compositora e produtora cultural. No estudo
“Samba e Memória Musical – da tradição à transcontextualização”, a pesquisadora
reflete sobre a presença do samba e suas mudanças no contexto contemporâneo
pós-moderno apresenta conceitos como nomadismo; movência; intercâmbio dos
conceitos de tradição e ruptura.
“Acredito que pensar o samba como
patrimônio, no atual contexto, marcado e demarcado pelos interesses do
capitalismo tardio, passe por encontrar estratégias para que as ações sociais
de preservação e transcontextualização possam, cada vez mais, ser exercidas por
sujeitos efetivamente comprometidos com a dívida histórica que esta sociedade,
infelizmente, ainda preserva em relação a seus afro-descendentes”.
Mas quem pensa que só havia “samba
tradicional” no evento se enganou, o gênero e suas influências/influenciadores
foram intensamente debatidos: MPB, jongo, funk, jazz, paradinhas do mestre
André e Jorjão, bossa nova, maracatu… e novos grupos como o Metá Metá
apresentado por Isabela Martins de Morais e Silva que procura “mesclar em suas
canções as heranças do samba com as narrativas oriundas das religiões de matriz
afro-brasileira”
“O Samba e suas Performances”
chamou atenção com a professora Denise
Mancebo Zenocola, que na sua análise sobre o samba de gafieira fala sobre o que
há de diferente na relação entre feminino e o masculino nesta dança – “ratifica
a discussão do corpo na sua relação social social e de subjetividade; ressalta
a espontaneidade”. No tema “Samba, Carnaval e Direitos Autorais” José Vaz de
Souza Filho foi destaque apresentando
exemplos históricos das problemáticas de direito autoral dentro do
samba, as vendas de autoria, e
vislumbrando algumas soluções.
Na manhã de domingo foram
abordados os temas, também com palestra seguida de mesa redonda: “Samba,
Economia Criativa do Carnaval e Globalização” e “Samba e Territorialidade”. Em
“Samba e Territorialidade” refletiu-se desde o samba paulista, de uma roda de
samba em Belo Horizonte, narrativas do “povo do santo” – que criam e fazem a
manutenção dos terreiros no Rio de Janeiro, até a “Pequena África”. Em “Samba,
Economia Criativa do Carnaval e Globalização” Simone Aparecida Ramalho e Ana
Luisa Aranha e Silva apresentam modelo de economia inclusiva:
” a experiência do projeto de
geração de trabalho e renda Ala Loucos pela X, fruto da parceria entre entidades
do campo saúde mental e o GRCES X9 Paulistana, que há 12 anos vem tecendo vivas
redes solidárias no carnaval paulistano. Neste projeto, homens e mulheres
moradores da periferia de São Paulo, discriminados pela psiquiatrização e
incapacitação social, histórica e socialmente construídas que lhes confere
dupla exclusão social, à semelhança de outros grupos envolvidos no campo do
samba e do carnaval, ao tornarem-se aderecistas de grandes agremiações
paulistas, trabalhando a partir dos princípios da economia solidária, vêm
demonstrando que possibilidades potentes de geração de trabalho, renda e
cidadania podem ser incluídas na economia criativa do carnaval, sem que nos
distanciemos da raiz política emancipatória original e primeira do samba, mesmo
diante das proporções exigidas pelos desfiles das grandes agremiações
carnavalescas”
Infelizmente não foi possível
acompanhar a lavagem da Pedra do Sal, que estava marcado para as 7 horas e
iniciou após as 9:30 – registramos a espera e a conversa animada das baianas.
Mas… o fotógrafo português Miguel do projeto Fui? cedeu fotos.
Os pontos positivos do evento foram mesclar o cultural com o
acadêmico, uma cobertura jornalística carinhosa de vários meios de comunicação
e atendimento da organização atencioso. A vasta gama de profissionais e acadêmicos
interessados e com trabalhos interessantíssimos no assunto também foi outro
ponto alto do evento: estudiosos de cultura negra e relações raciais,
cientistas sociais, sociólogos, literatos, historiadores, museólogos,
antropólogos, músicos, compositores, dançarinos, políticos, filósofos, pedagogos,folcloristas,
etnólogos, artistas plásticos, membros das comissões julgadoras do carnaval,
jornalistas, administradores, gerenciadores de projetos, carnavalescos,
advogados, cientistas políticos, cineastas, promotores de eventos, produtores
musicais, estilistas, designers, atores, redatores, documentaristas…
Apesar de problemas amadores na
organização do evento: chamar os trabalhos selecionados em cima da hora, sem
haver tempo para os pesquisadores pedirem recursos para as universidades
(ocasionou muitas faltas); atrasos em excesso;
interrupção de mesas sem permitir que a platéia fizessse perguntas para
os autores que vieram de outros estados… outra crítica a se pensar e que vários
presentes citaram – apresentações em paralelo com temáticas em comum deram a
sensação de termos perdido muita coisa interessante. O balanço final do evento foi positivo, e
que nas próximas edições seja primoroso para que o público possa aproveitar
melhor as reflexões. O samba, a comunidade que o produz e os pesquisadores que
trabalham temas que da cultura negra merecem isso, e muito mais.
Leia mais:
“fui?” é uma ação provocatória
entre a arte e a comunidade, ao misturar os rostos e recantos de duas regiões
portuárias: a cidade do Porto (Portugal) e o porto do Rio de Janeiro (Brasil)
Abertura do 2º Congresso Nacional
do Samba: Edison Carneiro, José Ramos Tinhorão, Haroldo Costa e Sérgio Cabral.
Fonte http://fuiobrigada.wordpress.com/2012/12/03/2o-congresso-nacional-do-samba-e-balanco-do-evento/